quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

De cara nova para 2012!

O blog, ao mesmo tempo que agradece os inúmeros acessos em 2011, dá também as boas vindas calorosas aos que caminharão conosco nesse novo ano. Com a ajuda preciosa dos serviços de Wendel Designers da cidade de Florânia, o blog umasreflexoes apresenta para 2012 sua mais nova face, a interface das reflexões que irão provocar e instigar os mais fortes instintos do pensamento humano, desde os temas ligados à cidadania até os afinados com a filosofia. Que 2012 nos traga uma explosão de renovação, não só nos pensamentos, mas sobretudo na vida, na política, na nossa cotidianidade.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

GENEROSIDADE


Cá estou eu novamente para grafar os últimos devaneios deste ano. “Um bom ano”. Lembram do filme que traz esse título!? Nele o autor leva o espectador a viajar do ritmo frenético dos negócios a uma pacata cidadezinha da França, cheia de vinhedos, com suas peculiaridades convencionais e muito provinciana. Da cidade à Província. Está aí uma bela passagem. Ou vice-versa. Uma das muitas passagens que podemos fazer: Da agitação à calmaria. O protagonista do filme consegue encontrar o seu destino onde menos esperava. Ao tomar conta dos negócios do vinhedo do tio numa pequena cidade, encontra-se pessoalmente e descobre o amor e a felicidade.
Para sair e fazer a passagem do “grande” ao “pequeno” sujeito, como diria Charles Chaplin, será preciso que a generosidade nos acompanhe em cada gesto. Dar um pouco do que é seu a outro revela uma parte sua antes desconhecida. Dar lugar à generosidade nesse fim de ano parece ser uma boa sugestão para quem, de fato, ainda pretende livrar-se de si mesmo e de suas vicissitudes egoístas e desonestas. A generosidade nos faz mergulhar maravilhosamente na mais pura vida, sem dinheiro e sem politicagem, e ir experimentar o quase nada dos outros. Passar do solitário ao solidário com as mãos e o coração cheios de amor e de atenção para dar.
Já se perguntou o que pode dar? Dar. Dar o quê? Dar algo além de presentes, dinheiro e uma boa mesa. O falso clichê de que “ninguém dá o que não tem” se confronta com a ideia de que algo se pode dar do que se é. Sim, pode-se dar o que se é. Não há nada que não possamos dar de nosso ser, uma vez que é próprio do ser dar, dar sempre mais. Quem nunca ouviu a frase: “Ninguém é tão necessitado que não tenha nada para dar e ninguém é tão suficiente que não tenha nada para receber”. Generoso ao dar, mas generoso também ao receber em todos os sentidos. Por exemplo: Há pessoas que são muito generosas para falar, mas pouco generosas para ouvir.
Não me refiro somente ao nada econômico, o mais desprezível de todos porque é o valor mais focado por todos, mas me refiro ao que quase ninguém liga mais, aos afetos, ao que é interno e que se encontra na linha do amor. Na estreita linha do amor estão os inexplicáveis atos de bondade e de generosidade tão próprios aos seres humanos, a tudo que é humano. É daí que vem, sim, a verdadeira generosidade.
Quantos não fecharam suas mãos, não só as mãos, mas fecharam o coração durante todo este ano! Portanto, é hora de abrir as mãos, o coração, a cabeça, os olhos, a vida para quem não pode abrí-los devido aos inúmeros impedimentos, a saber: fome, miséria, doença, desemprego, violência, corrupção, ganância e egoísmo. Romper a barreira de todos esses impedimentos é a graciosa sugestão da generosidade possível ao homem.
O mais engraçado da generosidade é que sem gratidão dificilmente poderá ser experimentada. A gratidão é a força da generosidade. Sem gratidão, a generosidade se transforma em vaidade. A honra da generosidade é um coração grato. Veja que, só com amor, a generosidade faz sentido. Para conservarmos a dignidade do ato de dar, é necessário reconhecermos nossa consciência, vontade e liberdade ao dar. Ser generoso é, antes de tudo, ser gracioso pelas muitas coisas que chegaram até nós sem esforço algum. Reconhecer que o calor do sol, a luminosidade da lua, a fonte dos rios, o movimento dos mares, a fertilidade da terra, o carinho dos animais, a bondade das pessoas, a beleza das florestas e o presente dos filhos não têm preço, é de graça que recebemos, na verdade, já são um esplendor de generosidade.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica
Páginas na internet:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A filosofia como “ensaio” do pensamento


Na introdução à obra História da Sexualidade II, Do Uso dos Prazeres, temos um texto bastante feliz de Michel Foucault sobre o que vem a ser, de fato, a filosofia. Um texto para ser lido, lido de novo e depois posto à admiração de todos que puderem se abrir ao maravilhoso exercício do pensamento. O que ele diz, do jeito que diz da filosofia é simplesmente novo e contemporâneo. Aliás, Foucault é um desses filósofos, cujo modo de dizer as coisas é praticamente atual, singular e resistente ao tempo. Consegue ser contemporâneo o tempo todo.
Se Foucault fez o seu “ensaio” filosófico como o fez Montaigne, Nietzsche e outros, por que não devamos fazer o mesmo a partir de nós? Vejamos o que é o “ensaio” filosófico de Foucault para aprendermos a lição de pensar o pensamento a partir do contemporâneo.

Quanto ao motivo que me impulsionou foi muito simples. Para alguns, espero, esse motivo poderá ser suficiente por ele mesmo. É a curiosidade – em todo caso, a única espécie de curiosidade que vale a pena ser praticada com um pouco de obstinação: não aquela que procura assimilar o que convém conhecer, mas a que permite separar-se de si mesmo. De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece? Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. Talvez me digam que esses jogos consigo mesmo têm que permanecer nos bastidores; e que no máximo eles fazem parte desses trabalhos de preparação que desaparecem por si sós a partir do momento em que produzem seus efeitos. Mas o que é filosofar hoje em dia – quero dizer, atividade filosófica – senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento? Se não consistir em tentar saber de que maneira e até onde seria possível pensar diferentemente em vez de legitimar o que já se sabe? Existe sempre algo de irrisório no discurso filosófico, quando ele quer, do exterior, fazer a lei para os outros, dizer-lhes onde está a sua verdade e de que maneira encontrá-la, ou quando pretende demonstrar-se por positividade ingênua; mas é seu direito explorar o que pode ser mudado, no seu próprio pensamento, através do exercício de um saber que lhe é estranho. O “ensaio” - que é necessário entender como experiência modificadora de si no jogo da verdade, e não como apropriação simplificadora de outrem para fins de comunicação – é o corpo vivo da filosofia, se, pelo menos, ela for ainda hoje o que era outrora, ou seja, uma 'ascese', um exercício de si, no pensamento”(In FOUCAULT, Michel. História da sexualidade II, Uso dos Prazeres. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1984, pág. 13).

Compilado por Jackislandy Meira de Medeiros Silva.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cante o Natal!

Talvez, poeta algum cantou tão bem o Natal quanto Manuel Bandeira! Ele o mostrou da maneira mais simples, cotidiana e humana, repleta de inocência tão próprias ao requinte e ao estilo de Bandeira. Cantemos com ele a pureza do Natal:


Penso no Natal. No teu Natal. Para a Bondade
A minhalma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Tudo é saudade... A voz dos sinos... A cadência
Do rio... E esta saudade é boa como um sonho!
E esta saudade é um sonho... Evoco-te... Componho
O ambiente cuja luz os teus cabelos douram.
Figuro os olhos teus, tristes como eles foram
No momento final de nossa despedida...
O teu busto pendeu como um lírio sem vida,
E tu sonhas, na paz divina do Natal...


Ó minha amiga, aceita a carícia filial
De minhalma a teus pés humilhada de rastos.
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos...
Ampara a minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais do que humana  pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus...

O bobo filósofo de Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O pensador na poesia de Pessoa

O poeta Fernando Pessoa ao modo de Alberto Caeiro soube maravilhosamente se expressar como quer um filósofo, com admiração e perplexidade diante da novidade do mundo:
 "O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
      E o que vejo a cada momento
 É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
    E eu sei dar por isso muito bem...
         Sei ter o pasmo essencial
   Que tem uma criança se, ao nascer,
    Reparasse que nascera deveras...
    Sinto-me nascida a cada momento
    Para a eterna novidade do mundo."

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O sentido do trabalho


(Arte: Diego Rivera)
Eis um bem necessário: Trabalhar. Não quando se está para entrar em férias, mas quando se está prestes a sair delas. As férias estão às portas, e está aí uma boa hora para se pensar um pouquinho no sentido que damos ao trabalho. Talvez vejamos melhor o trabalho longe dele ou fora dele. Muitos diriam até que é um mal necessário, no entanto, trabalhar acaba sendo um bem necessário, antes de tudo, porque é um valor insubstituível para a saúde de qualquer cidadão, bem como para a sua sustentabilidade.
É óbvio que, como qualquer outra coisa na vida, o trabalho também é uma falta quando da sua ausência circunstancial. Só se valoriza o estudo quando se deixa de estudar. Só se valoriza o amor quando se passa pelo deserto do desamor. Só se percebe a pessoa do lado até o momento em que ela passa a não estar lá. Assim também é com o trabalho. Sua falta é sentida a partir do momento que deixamos, por alguma razão, de trabalhar. Com as férias, ausência de trabalho, vem a monotonia, o tédio, o sedentarismo e todo tipo de males. Por isso, o trabalho acaba sendo uma das boas saídas para uma vida feliz, sobretudo quando o trabalho é a extensão da família que enriquece o convívio social.
As férias não devem ser encaradas como um tempo de morbidez sem fim, uma vez que são um período apenas de descanso e de recomposição das energias gastas num intenso tempo de trabalho. Sendo assim, nada mal que tenhamos um bom tempo livre para fazer muito do que se gosta, como por exemplo; terminar aquela leitura que ficou inacabada; caminhar com mais frequência para exercitar o corpo e manter o equilíbrio emocional; cuidar um pouco mais de si; dialogar com quem não se via há bastante tempo; visitar os amigos; viajar e respirar novos ambientes... Enfim, volta e meia precisamos tirar umas férias, até porque ninguém é de ferro. Sair das rotinas e se desgarrar dos enfados do trabalho maçante e burocrático, de atividades repetitivas por isso estressantes, nos fazem muito bem.
Não há dúvidas de que a nossa natureza humana reclama descanso, paz e um pouco mais de humor, porém há que se ressaltar, nisso tudo, um certo limite de empolgação para com as férias, até porque quanto mais nos acostumamos com elas e com o lazer, mais e mais nos percebemos que somos homens do trabalho, seres que não vivem mais sem trabalho. Essa é uma consequência dos famosos tempos modernos trazidos pela revolução industrial, êxodo rural e inchaço das grandes cidades. Trabalhamos visando à riqueza, ao lucro e ao acúmulo de bens, ao capital. Isso nos levou a não trabalharmos mais, mas a capitalizarmos, perdemos o sentido do trabalho que vinha acompanhado do pensamento e do prazer. Todavia, não só pelo motivo econômico de sobrevivência e subsistência, mas também pela ocupação terapêutica, pela “salvação” mesma que o trabalho nos propõe é que ele é tão indispensável nos dias atuais. Tira-nos da inércia e nos põe em atividade, em movimento.
É desse ponto de vista muito peculiar que o trabalho acaba sendo uma opção de vida continuada até mesmo para quem se aposenta e não quer, de jeito nenhum, cair na invalidez. Aposentar-se hoje aos 60 anos não é mais uma verdade, tampouco um sonho de muitos. Aposentar deixou de ser um ideal a perseguir.
Acostumados com uma pauta exaustiva, extenuante e até certo ponto corriqueira do trabalho não nos habituamos mais a um ritmo de vida estático e cômodo comparado ao das férias. Talvez isso se deva ao frenético ritmo de atividades que uma mesma pessoa pode desenvolver hoje no mundo do trabalho. Desempenhamos as mais variadas atividades, desde aquelas ligadas ao lar até às inúmeras outras ligadas ao comércio, à indústria, ao estudo e etc. É bem verdade que nos adaptamos a tudo, até mesmo ao mais duro dos muitos trabalhos, como é o caso do trabalhador rural e do trabalhador de construção civil; trabalhadores nos canaviais e pedreiros por exemplo. Estes, de sol a sol, o dia inteirinho, não largam seus instrumentos de trabalho porque precisam produzir ou render intensamente no labor que desempenham.
Não importa o trabalho ou as suas diferentes formas, todos eles são necessários para o desenvolvimento humano e cultural de um povo. O que é indispensável fazer, além de fabricar e criar com as mãos e outros membros do corpo, é arte com o trabalho. Trabalhar com arte é permitir-se ao novo, ao desconhecido, ao inusitado. Trabalhar é transcender à sua ordem do dia. Trabalhar é agradecer em meio ao deserto, fruto da irritabilidade, do cansaço e da falta de vocação para tal. Trabalhar é também comer o pão do suor de seu rosto. Trabalhar, tal como se ouve música ou como se faz teatro, encenando, representando, deixa de ser uma tragédia, um incômodo e passa a ser arte, algo muito agradável.
Para terminar, não se deslumbre muito com as férias, pois assim como se cansa do trabalho, cansa-se também das férias!

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em Metafísica.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Vira-latas



Por Luiz Felipe Pondé.

O brasileiro tem complexo de vira-lata. Adora bancar o chique falando mal de si mesmo.

Principalmente quando alguém chique (leia-se, europeu) fala mal do Brasil. Um modo específico de nosso complexo de vira-lata é achar a Europa o máximo.

Quem conhece bem a Europa e ultrapassou a caipirice de achar tudo lindo por lá sabe que os europeus são (também) arrogantes, metidos, preconceituosos e exploradores e pensam, ainda hoje, que somos uns "índios" mal alimentados, ignorantes e mal-educados.

Claro que há exceções, portanto, não se faz necessário que europeus me escrevam jurando que são legais, ou que seus avós são legais, ou que seus cachorros são criados com todos os direitos humanos, mesmo porque, apesar de que isso não é sabido, ninguém pode ajuizar sobre sua própria virtude.

Lamento pela gente que se julga "crítica e consciente", mas todo mundo que se acha legal por definição é um mentiroso.

Se você for uma leitora que um dia mochilando pela Europa transou com um europeu (europeus costumam adorar brasileiras, porque acham nossas mulheres fáceis e doces, coisa rara nas mulheres europeias de hoje em dia, que a cada dia se tornam mais chatas, competitivas e estéreis), não confunda o papo que teve com ele antes do coito com o fato de que os europeus nos acham subdesenvolvidos. Inclusive porque para eles você é fácil porque é subdesenvolvida.

Sim, achar a Europa o máximo é coisa de gente caipira e brega. Se você pensa assim, tome um remédio. Ou minta.

Recentemente, um intelectual europeu em visita ao Brasil fez críticas ao país. Nada que não saibamos sobre nós mesmos. Mas, logo, alguns intelectuais e artistas vira-latas tiveram um orgasmo porque o "sinhozinho" falou mal das "zelites".

Sim, a elite brasileira pode ser bem brega na sua condição de elite de colônia. E horrorosa na sua ignorância "luxuosa". Aqui, ostentação é destino. Pessoas educadas sabem que a felicidade (seja lá no que for) deve ser guardada a sete chaves. Só gente brega "mostra" que é feliz. Neste caso, um toque de melancolia é elegância.

Por exemplo, o hábito de cultuar restaurantes pretensiosos como "de Primeiro Mundo" porque são caros é comum entre nós.

Dizer que você esteve em tal restaurante "caríssimo" (sempre pretensioso) é atestado de breguice. Mas julgar alguém "superinteligente" porque vem da Europa também é brega.

É fácil posar de "culto e crítico" e ficar horrorizado com nossas injustiças sociais quando se teve a chance de ganhar muito dinheiro ao longo da história à custa das injustiças sociais dos outros. Europeu que se faz de rogado pela injustiça no mundo só cola em vira-lata.

Por outro lado, se a riqueza cultural europeia é óbvia, e não se trata de negar este fato, ela se deve em grande parte às injustiças sociais europeias do passado e não ao seu "estado de bem-estar social" atual. Este tipo de "estado" produz apenas banalidades e monotonias de classe média.

Uma grande falácia é supor que injustiça social e riqueza cultural sejam excludentes, pelo contrário. Ou que justiça social produza necessariamente originalidade intelectual.

Não sou um "patriota", patriotismo é para canalhas. Calabar -que optou pelos holandeses em detrimento dos portugueses no Pernambuco colonial- pode ter razão. Falo aqui apenas de nosso complexo de vira-lata.

É muito comum que grandes intelectuais estrangeiros venham a nossa terra inculta e falem um "feijão com arroz" básico supondo que somos ignorantes mesmo e por isso não precisam suar a camisa diante de nossas plateias que sacodem seus ouros, exibem seus decotes e orelhas de livros.

Já vi isso acontecer várias vezes. Também no mundo acadêmico isso acontece, não só no mundo da filosofia de luxo.

Um grande professor que tive e que vive na Europa há anos me disse certa feita que até hoje os europeus não acreditam que "na volta das caravelas que colonizaram as Américas" pode haver algum "índio" que seja igual ou melhor do que eles.

A afetação moral em europeus não é muito diferente da afetação intelectual de nossos decotes de marca.

Boletim filosófico "o dia d" do S.E.R.

Como professor de Filosofia da rede pública estadual já há alguns anos, não abro mão das leituras que, com frequência, venho fazendo dos boletins semanais, editados pelo Centro de Filosofia Educação para o Pensar. Àqueles que ainda não conhecem o Boletim, vejam esta nova edição:

http://boletimodiad.blogspot.com/

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Filosofia para Crianças: Valores e contravalores

Há valores situados fora do tempo e do espaço, como a paz, a justiça, a generosidade, o diálogo, a sinceridade, etc. Já nos diálogos de Platão vamos descobrir a discussão destes mesmos valores, o que vem corroborar a afirmação que principia este parágrafo.
Descobrir, incorporar e realizar estes valores positivos deve ser, pois, uma das tarefas básicas da filosofia para crianças e adolescentes.
Devemos começar pensando: “Quais os critérios para se viver em sociedade?”
Veremos que temos:
- o sentimento de crítica que nos permite analisar a realidade;
- o sentimento de alteridade que nos permite sair de nós mesmos para estabelecer relações com o outro;
- o conhecimento e o respeito pêlos direitos humanos, que nos traz harmonia;
- o compromisso pessoal e o espírito de responsabilidade para que os outros critérios não caiam no vazio.
O que é um valor?
Algo que estimamos, a convicção de que alguma coisa é boa ou ruim (contravalor). A organização destas convicções vai se fazer em nós, através dos valores dos pais, dos educadores, da religião e da so­ciedade, durante o nosso processo de desenvolvimento.
De onde vêm os valores?
 A filosofia vai contribuir para que estes valores já estabelecidos se­jam passados pelo crivo da razão e   ajuda-nos a definir, com clareza, os objetivos de vida e assumir, livremente, valores autênticos que evidentemente  ajudarão a aceitar e amar como é, facilitando uma relação equilibrada com o outro, com a vida e com o mundo.

Fonte: Do livro Filosofia para Crianças e Adolescentes.  Autora: Maria Luis S. Teles. Ed Vozes

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

13 curiosidades sobre Emmanuel Lévinas

Levinas - 13
Levinas solicitou que se colocasse uma faixa ao redor do livro Da Existência ao Existente com a seguinte sentença: “onde não se trata de angústia”.

Ele deixa a angústia do nada e parte para o horror do há da existência. Ou seja, o abandono do medo da morte em direção ao demais de si mesmo.
Levinas - 12
Levinas encontrou Sartre três vezes. Segundo Simone de Beauvoir, Sartre teria especialmente apreciado Teoria da Intuição na Fenomenologia de Husserl. Levinas teve grande admiração por Sartre. O filósofo teve contato com O Ser e o Nada logo que saiu do cativeiro.
Levinas - 11
Antes da guerra, o filósofo solicitou a nacionalidade francesa e a obteve. Terminou sua tese. Neste período, casou. Levinas prestou serviço militar em Paris no Regimento de Infantaria.
Levinas - 10
O filósofo rapidamente foi feito prisioneiro de guerra. Foi levado para a Alemanha, declarado judeu, passou para o campo de prisioneiros onde trabalhava de dia na floresta. A pé, atravessando o vilarejo diariamente para o trabalho, Levinas descreve que o olhar das pessoas, olhar de condenação, "dizia tudo".
Levinas - 9
Levinas conheceu Husserl já muito velho. A mulher de Husserl estudava francês com Levinas que se dirigia à casa do velho filósofo para este fim. De Heidegger, Levinas teve a impressão de um autoritarismo austero. Tinha um grande respeito, admiração, por Heidegger, mas nunca esqueceu suas relações com Hitler.
Levinas - 8
O filósofo dizia que era difícil dialogar pessoalmente com Husserl em uma aula, questionar Husserl. Qualquer pergunta parecia ser respondida com uma conferência, com textos prontos.
Levinas - 7
Levinas chega à fenomenologia na França, ao conhecer por intermédio de uma amiga Husserl. Ao ler As Investigações Lógicas, o filósofo entendeu que estava diante de uma nova possibilidade de passar de uma idéia para outra, além dos aspectos induditos, dedutivos, intuitivos.
Levinas - 6
Desde seus primeiros estudos na França, a partir de 1924, Levinas nutriu uma sólida admiração pelo pensamento de Bergson. Idéias como a do infinito em cada pessoa, a excelência do bem, a duração, temporalidade, vários elementos impressionaram o filósofo.
Levinas - 5
Levinas chegou à Filosofia inicialmente pelas leituras dos autores russos. Os textos de autores judeus também o conduziram neste caminho. Por fim, quando sua família se muda para a França, onde vários professores de Filosofia lhe chamam a atenção, e o caso Dreyfus é discutido sob a ética em toda a Europa.
Levinas - 4
Quando o tzar abdica, em 1917, Levinas era muito mo?e não compreendia o alcance do ato. Em julho de 1920 sua família aproveita uma oportunidade e retorna imediatamente ?itu?a, onde as chances para uma família israelita seriam melhores.
Levinas - 3
Desde os 6 anos de idade Lévinas teve aulas habituais de hebraico. Quando chega ao liceu, em Kharkov, tinha 11 anos e somente havia conhecido aulas particulares até então. Era muito raro judeus poderem cursar as melhores escolas e a família Lévinas comemorou o fato.
Lévinas - 2
Era comum que a geração dos pais do fil?o iniciasse os jovens pelo hebraico. Mas tal geração compreendia que o caminho a seguir pelos jovens deveria passar pela cultura russa, pela línguua russa. Assim, era usual que nas famílias de origem judaica os pais falassem russo com os filhos.
Lévinas - 1
O filósofo afirmava ter poucas recordações de sua infância. Lembra que o pai tinha uma livraria em Kovno, Lituânia. Tinha cerca de 8 anos quando começou a guerra em 1914. Havia uma forte cultura judaica na região, muitas sinagogas, diversos lugares onde estudar.


Fonte: www.filosofia.com.br

Charges de Gary Larson

Gary Larson(1950) é cartunista norte-americano. Autor de FAR SIDE, onde mostra situações surreais. Nosso blog o homenageia com quatro desenhos seus.
Fonte: www.filosofia.com.br 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Reajuste: governo anuncia elevação do salário mínimo de R$ 622,73 para o próximo ano

 
O governo anunciou ao Congresso Nacional a elevação do valor do salário mínimo para R$ 622,73 a partir de 1º de janeiro de 2012. A previsão era R$ 619,21, com a revisão aumentou R$ 3,52. O reajuste consta da atualização dos parâmetros econômicos utilizados na proposta orçamentária de 2012. O anúncio foi enviado em ofício do Ministério do Planejamento.
O projeto orçamentário encaminhado ao Congresso, em agosto passado, foi feito com previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 5,7%. Com a atualização que elevou a inflação para 6,3%, também haverá a elevação do reajuste do salário mínimo, que era 13,62% para 14,26% em relação ao atual valor que é R$ 545,00.
A política de recuperação do salário mínimo prevê reajuste com base na inflação de 2011 mais a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, que foi de 7,5%. Com a projeção de aumento do INPC haverá também aumento nos benefícios assistenciais e previdenciários para os que recebem acima de um salário mínimo. A previsão de reajuste para esses casos subiu de 5,7% para 6,3%.

 * Informações da Agência Brasil

Crime ao meio ambiente

Quem vai pagar a conta? Quem vai arcar com o prejuízo? Novamente a humanidade.

O erro de Foucault

por Luiz Felipe Pondé para Folha

Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse "erro de Foucault" a sete chaves.

Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.

O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu "orgasmo xiita", após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.

Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o "gênio" contra os "aparelhos da repressão" não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o "Eros xiita".

Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?

Porque muitos dos nossos colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como Foucault) escrevem em suas alcovas.

No recente caso da USP, como em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses "estudantes" (muitos deles nem são estudantes de fato, são profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos faz pensar no tipo de fé "foucaultiana" numa "espiritualidade política contra as tecnologias da repressão".

E onde Foucault encontrou sua inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado "espiritualidade política"?

Leiam o excelente volume "Foucault e a Revolução Iraniana", de Janet Afary e Kevin B. Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no "último Foucault".

As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados.

Esse vazio de critérios de aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é passado aos alunos.

Muitos docentes simplesmente "lavam o cérebro" dos alunos usando os "dois caras" que leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir de seu doutorado.

Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street ou de São Paulo.

Essa crítica ao vazio prático das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.

Essa crítica não quer dizer que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e, por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica. Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.

Trocando em miúdos: as ciências humanas e seus "atores sociais" viajam na maionese em meio a seus delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e racionais) sem nenhuma responsabilidade.

Proponho que da próxima vez que "os indignados sem causa" ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou "FeFeLeCHe", nome horrível!) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.

Agem com a USP não muito diferente da falsa aristocracia política de Brasília: "sequestram" o público a serviço de seus pequenos interesses.

No caso desses "xiitas das ciências humanas", seus pequenos delírios de grande "espiritualidade política".

ELEIÇÃO PARA DIRETOR DA ESCOLA SILVINO BEZERRA DE FLORÂNIA É FRAUDADA

A Escola Estadual Cel. Silvino Bezerra da cidade de Florânia realizou as eleições para diretor, vice e coordenador financeiro quinta-feira passada, dia 17 de novembro de 2011, na qual concorreram a Sra. Professora Daguia Nobre que obteve 261 votos e José Porfírio que obteve 260 votos. As fraudes atingiram os segmentos dos Professores, dos Servidores e dos Pais. Na listagem dos professores que era de 24 assinaturas apareceram 25 votos, sendo 01 a mais. Na listagem dos servidores, que era de 17 assinaturas, assinaram 16 e apareceram 19 votos. Enquanto que, no segmento dos pais, assinaram 233 pais, tendo sido apurado de votos válidos 226 mais 02 votos brancos e nulos, perfazendo-se assim 228 votos. Pergunta-se: Onde estão os outros cinco votos dos pais? E os quatro votos que apareceram no segmento dos professores e servidores vieram de onde? Veja o quadro abaixo e comprove. Estas e outras fraudes já estão sendo investigadas pelas autoridades competentes. Obs: Não publicamos a listagem dos votantes para preservar a integridade das pessoas que votaram.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Uma dose de filosofia na saga “Crepúsculo”


Um triângulo amoroso, que arrancou suspiros na famosa saga “Crepúsculo”, desenrolando-se em mais duas fases “Lua Nova” e “Eclipse”, vem agora atraindo multidões do mundo inteiro para as próximas revelações que darão rumo ao futuro de Bella nas telas de cinema. Revelações estas, claro, para quem ainda não leu a última parte dessa saga, “Amanhecer”.
Um vampiro, uma humana e um lobo. Três naturezas diferentes. Três ordens de pensamentos diversos. Três mundos muito distantes, mas que se aproximam e se encontram pelo amor. Um amor que altera a ordem das coisas e para o qual não há regras. Três visões de mundo completamente diferentes. Poderíamos dizer: Três filosofias. Edward demole a figura clássica de um vampiro feio, exótico e insociável e constrói a figura de um vampiro belo, bom e amável. Mesmo carregando a imortalidade na pele fria, Edward aparenta ser bastante reservado aos humanos, sem presas afiadas e sem ostentar maldade. Não manisfesta qualquer atitude suspeita de que, afinal, é um vampiro, pois Bella só soube que Edward era um vampiro depois de o conhecer. O comportamento de aproximação e distanciamento que havia na amizade entre os dois levou Bella a desconfiar de que se tratava de alguém muito diferente. No entanto, já era tarde demais, os dois já estavam envolvidos.
Nesse movimento curioso de aparecimento e desaparecimento de Edward, alguém muito especial entra na vida de Bella, Jacob. De visão aguçada, audição potente, olfato incomparável e demais sentidos tão próprios a um lobo; comprometido com sua alcateia, fiel aos tratos feitos no passado com os vampiros “cullen” de que nem lobos e nem vampiros poderiam ameaçar os humanos, Jacob não tinha medo de manifestar o seu amor por Bella, muito menos de desafiar os “cullen” para conseguir este tão maravilhoso amor. Ao contrário de Edward, Jacob era moreno, quente e cheio de vida, não de morte. Jacob cheirava à vida, não à morte. Embora muito bonito, esbelto e galã, Edward era pálido e temia a si mesmo por causa do sangue dos humanos. Sua natureza gostava de sangue. Talvez, por isso, se entenda o motivo dos desaparecimentos de Edward de quando em vez. Se a contradição que existia entre o ser vampiro de Edward e a humanidade de Bella era uma ameaça para a realização deste amor; a natureza de lobo de Jacob e a de Bella não implicava em tanto.
Com quem, de fato, Bella vai ficar? Isso todos nós já sabemos. Edward, de acordo com a última parte da saga “Amanhecer”, é o dono de seu coração, porém Jacob tenta mudar esse destino. Jacob se arrisca por isso. Não desiste de Bella, está sempre em sua companhia, principalmente nos impasses entre ela e Edward. Jacob luta por ela, tenta beijá-la, mas ela reluta, até que quase ao final de “Eclipse” tudo ocorre por atração, desejo e naturalmente:
“Pode me beijar, Jacob?
    • Está blefando.
    • Beije-me, Jacob. Beije-me e depois volte.(...)
    E então, com clareza, senti a fissura em meu coração se estilhaçar como a menor parte que se separava do todo. Os lábios de Jacob ainda estavam nos meus. Abri os olhos e ele me fitava, admirado e exaltado.
    • Tenho de ir – sussurrou ele.
    • Não. - Ele sorriu satisfeito com minha resposta.
    • Não vou demorar – prometeu ele. - Mas primeiro uma coisa...
    Ele me beijou de novo, e não havia mais motivos para resistir. Que sentido teria?
    Dessa vez foi diferente. As mãos dele eram suaves em meu rosto e seus lábios quentes eram gentis, inesperadamente hesitantes. Foi breve e muito, muito doce”(pág. 377-378)
O amor de Bella por Edward e vice-versa é a fonte de inspiração de toda a trama, mas Jacob entra em cena sempre que a dúvida toma conta da cabeça dos dois. A dúvida de Edward aparece quando se dá conta da sua natureza de vampiro. Condenado à imortalidade e ao frio, ao sangue, ao mesmo tempo que a amava se sentia uma ameaça para ela. Por outro lado, não querendo condená-la a perder a sua alma, se ausentava de sua presença. Aí, abre-se um espaço para o lobo, Jacob. Vampiros e lobos são inimigos por natureza, mas que se uniam por um amor, Bella.
Vejam que estranho e ao mesmo tempo admirável: Os três tinham todas as razões, todos os motivos para se odiarem e se evitarem o tempo todo, mas uma linda e fantástica história de amor os envolviam em ambientes peculiares com interesses comuns e únicos. As três vidas estavam como que comprometidas em torno de um nome, de um sentido, de uma força extraordinária, amor. Um amor que é mais forte do que a morte e do que a imortalidade. Em toda a saga, diga-se de passagem, a morte é apenas um detalhe. Não sem razão, a autora da saga, Stephenie Meyer, escreve de próprio punho no prólogo de “Amanhecer” que está agora nos cinemas: “Pode-se correr de alguém de que se tenha medo; pode-se tentar lutar com alguém que se odeie. Todas as minhas reações eram preparadas para aqueles tipos de assassinos, os monstros, os inimigos. Mas quando se ama aquele que vai matá-la, não restam alternativas. Como se pode correr, como se pode lutar, quando essa atitude magoaria o amado? Se a vida é tudo o que você tem para dar ao amado, como não dá-la? Quando ele é alguém que você ama de verdade”(pág. 13).
O mais interessante é que, por esse amor, ambos são capazes de não serem capazes, ambos são dotados de um poder que ultrapassa a barreira do tempo e do espaço. Jacob também a ama tanto quanto Edward. Bella ama misteriosamente os dois, só que ama mais a Edward. Queiramos ou não, na minha opinião, os três são merecedores desse amor, porém, nem um dos três consegue conter ou dominar esse amor, uma vez que em toda a história o amor é soberano.

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Bacharel em Teologia, Licenciatura em Filosofia, Especialista em Metafísica

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ficha limpa e judiciário: uma vergonha

É uma vergonha! Onde está a nossa conivência e consciência para com a justiça em nosso país? É por isso que os políticos corruptos deitam e rolam em "berço esplêndido".

A aurora do pensamento ocidental – José Arthur Giannotti

Seguindo a tradição dos povos indo-germânicos, para os quais o Uno configura o múltiplo, desenvolve-se na Grécia (séc. VII a. C.) uma produção de livros a serem discutidos por todos os cidadãos, que procuram responder à questão “o que é?”. São as formas separáveis (Ideias) dirá Platão, são as formas inseparáveis, portanto energizadas nelas mesmas, dirá Aristóteles. E assim se desenha o campo em que a batalha pela metafísica se dará.
Palestra da série Filosofia e saber de José Arthur Giannotti.
Outras palestras desta série acontecem no dia 24 de novembro e 2 de dezembro.
Transmissão ao vivo a partir das 18h em www.cpflcultura.com.br/aovivo.
Data: 18 de novembro
Horário: 19h
Classificação etária: 14 anos
Programação gratuita e por ordem de chegada a partir das 18h. A cpfl cultura em Campinas fica na rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632 – Chácara Primavera. Mais informações pelo telefone (19) 3756-8000.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ontologia leviana dos seios

por Luiz Felipe Pondé para Folha

Hoje acordei um tanto leviano. Em dias assim, falo a sério de filosofia. O niilista respira identificando em toda parte a morte da metafísica. Pra quem não sabe, a metafísica é a "ciência" segundo a qual existiria um mundo de formas eternas e plenas, invisível aos olhos, mas visível ao "espírito".

Engraçado como muita gente combate a artificialização da beleza do corpo em nome de uma beleza "natural". O que essa gente não entende é que se a metafísica morreu, a existência de uma natureza "natural" também morreu, porque tudo neste mundo da matéria é impermanente, vago, impreciso, e, acima de tudo, dolorido.

Com a morte de Deus (símbolo máximo da morte da metafísica), o corpo velho é apenas um corpo feio e decadente. Se Deus não existe, toda beleza artificial é permitida. Logo, viva o silicone.

Mas não quero falar de Deus, quero falar de seios.

A vida pode ser miserável e pequena. Triste constatação. Mas miserável pode ser apenas a constatação de que anatomia é destino, como dizia Freud. O corpo, essa massa mortal que perde a forma com o tempo, é nosso lar, uma casa em que habitamos e que nos abandona, deixando-nos a herança do pó.

"A Pele em que Habito", título do novo e maravilhoso filme de Almodóvar, define nosso destino. Mas não vou falar do filme, pois é aquele tipo de filme de que quanto menos se fala, melhor, porque quando se fala dele, corre-se o risco de falar demais.

O freudiano, agostiniano e dostoievskiano Nelson Rodrigues, o maior filósofo brasileiro, escreveu um livro chamado "Asfalto Selvagem, Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores", no qual a heroína Engraçadinha, segundo ele, seria infeliz porque tinha seios belos demais.

O mundo não perdoa a (a falta de) beleza, seja ela visível ou invisível. Por um seio bonito, mata-se e morre-se. No mínimo paga-se caro.

Acho que o SUS deveria pagar cirurgias plásticas para mulheres pobres colocarem silicone nos seios. Por que não? Travestis gozam de cirurgias de mudança de sexo, por que nossas mulheres não deveriam ter o direito de ficarem mais belas?

Ontologia é a disciplina da filosofia que estuda as essências das coisas e dos seres vivos. A ontologia diz o que você é. A ontologia da mulher passa pelos seios, pelas pernas e pela doçura, assim como a do homem pela potência e pelo dinheiro. O resto é mentira.

Tanta tinta corre no mundo em nome da política e da economia, e, ainda assim, os seios podem decidir a vida e o amor verdadeiro. Diante deles, a alma desfalece em desejo. Como disseram filósofos no passado, se o nariz de Cleópatra fosse diferente, a história do Ocidente teria sido outra.

Fala-se muito que devemos dar valor à alma, ao que se tem "dentro de si", ao que se "é", e não ao que se "tem", mas, o dia a dia, aquele mesmo em que acordamos atordoados pela constante constatação de nossas carências e impotências, parece dizer o contrário. O futuro pode sim ser julgado pela beleza dos seios.

Isso pode ser um indicativo da solidão do mundo no qual só a matéria existe. O niilismo, assim como o Demônio, o maior de todos os humanistas, respeita a angústia das feias.

Este fato, como todo fato obscenamente verdadeiro, pede silêncio de nossa parte. Mas eu, que peco constantemente em nome do vício, confesso: as pessoas quase sempre fazem tudo pelo que podem ter e não pelo que podem ser. E, muitas vezes, o "ser" é decorrente do "ter". E não falo de grana, falo de seios.

Fosse Platão um admirador do sexo frágil, abriria seu diálogo "O Banquete" (sobre o amor) pela ontologia dos seios da mulher.

Sendo assim, a indústria da beleza deveria receber maior atenção da filosofia e não apenas suas pedras de desprezo.

Colocar silicone pode ser um pedido discreto de amor. Uma forma tímida de buscar o olhar negado. Com o tempo, a forma dos seios abandona o mundo, ficando presa no mundo miserável do passado. Não se pode pegar com a mão ou com a boca a lembrança dos seios perdidos, apenas a forma dos seios reconstituídos.

A beleza artificial é uma batalha discreta contra o vazio do corpo e da alma.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Rede Globo se abre para o EVANGELHO

Tudo confirmado para o especial de fim de ano que a Rede Globo vai promover focado no público evangélico: o Festival Promessas. Pouco a pouco, a emissora vai percebendo o potencial do segmento chamado gospel, principalmente na música, tendo já investido em famosos talentos como Davi Sacer, Diante do Trono e Ludmila Ferber com gravação de seus CDs.
Agora chega a vez de realizar um programa específico para esse público. Talvez, não apenas valendo-se da possibilidade de grande audiência, mas também por tentar recuperar a credibilidade da emissora diante de muitos evangélicos que têm rejeitado conteúdo, nível e propostas de muitas programações da Globo.
Serginho Groisman será o apresentador do Festival Promessas e a direção de núcleo ficará por conta de Luiz Gleiser. O show de música está marcado para o dia 10 de dezembro, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, e deve ir ao ar no dia 18 (domingo), abrindo a programação especial de fim de ano. Nove artistas e grupos importantes da música gospel nacional se apresentarão. Isso é que é força gospel.

http://www.verdadegospel.com/serginho-groisman-vai-apresentar-especial-gospel-da-globo/

De corrupção e faxina

Prof. Nei Alberto Pies
Ativista de Direitos Humanos

“A política não é a arte do que é possível fazer, mas sim de tornar possível o que é necessário fazer”.
 (Augusto Boal, dramaturgo brasileiro)

Nem a faxina e nem a corrupção são invenções femininas. A corrupção é um evento de natureza essencialmente humana, que decorre como fruto das oportunidades, elaboradas ou fortuitas, do caráter dos oportunistas ou dos interesses escusos ou mal intencionados. Jamais acabaremos com a tão disseminada “praga” da corrupção que corrompe os espaços da esfera pública e privada. O que podemos fazer é “torná-la cada vez mais difícil de ser praticada”, como pensa a nossa presidenta da República Dilma Rousseff. 

Quem cunhou o termo “faxina” para denominar os esforços que governo, parlamentares e organizações da sociedade estão empenhando pelo controle da corrupção o fez sem considerar o significado do próprio conceito e sem pensar nas conseqüências nele implicadas. A verdadeira faxina é praticada todos os dias, nas nossas ruas e casas, por milhares de mulheres e homens no Brasil que, de forma digna, fazem deste ofício o sustento e alento de suas vidas. Estes, sim, “faxinam” os nossos lixos e restos.

É difícil falar de faxina sem recorrermos a uma casa. Ocorre que existem implícitas em toda faxina diferentes modos de conceber a arrumação como a limpeza de uma casa. Há quem prefira casas esterilizadas, semelhantes a um centro cirúrgico ou cenário de novela. Há outros, no entanto, que preferem casas que promovam a vida e a festa, muito antes da arrumação. Carlos Drummond de Andrade, em seu poema “A casa arrumada” afirma que:
“casa com vida é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa em festa”.
Faxinar pressupõe, por isso mesmo, “limpar o ambiente” com a certeza de que o mesmo logo mais estará sujo. E não é isto que se deve fazer para combater a corrupção.

O fato é que, no nosso jeito brasileiro, em cada momento histórico, vamos fabricando expressões lingüísticas para deixar tudo como está ou para zombar de quem está fazendo alguma coisa. Sempre arrumamos formas de não assumir nossa responsabilidade individual diante dos problemas enfrentados por todos. Fica muito mais fácil e cômodo ignorarmos a “corrupção nossa de cada dia”, aquela que enxergamos e da qual temos conhecimento, focando como se a mesma se concentrasse na Capital Federal, Brasília. É sempre menos comprometedor faxinar do que combater.

 No Brasil, não vivemos a cultura da radicalidade. Pela radicalidade, buscaríamos as soluções para nossos problemas a partir da raiz de sua existência.  Radicalidade é a nossa predisposição para a mudança efetiva e comprometida das realidades. Mas será que temos alguma predisposição para mudar o curso das coisas que movem a nossa vida social? A quem interessa combater a corrupção?

A corrupção gera-se em contextos circunstanciais, quando há oportunidades reais para que alguém, a partir de sua posição ou poder, apodere-se injustamente de algo que não lhe pertence. Não há como deter controle absoluto sobre as condutas pessoais e nem sobre a corrupção, mas há muito para fazer para resgatarmos valores como a ética, a justiça, a responsabilidade social, o zelo e a consideração pelas coisas públicas, a dignidade humana, o valor da política. Estes, sim, podem constituir uma nação mais cidadã e mais livre. São o verdadeiro antídoto para combater a corrupção.

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

De cara nova para 2012!

O blog, ao mesmo tempo que agradece os inúmeros acessos em 2011, dá também as boas vindas calorosas aos que caminharão conosco nesse novo ano. Com a ajuda preciosa dos serviços de Wendel Designers da cidade de Florânia, o blog umasreflexoes apresenta para 2012 sua mais nova face, a interface das reflexões que irão provocar e instigar os mais fortes instintos do pensamento humano, desde os temas ligados à cidadania até os afinados com a filosofia. Que 2012 nos traga uma explosão de renovação, não só nos pensamentos, mas sobretudo na vida, na política, na nossa cotidianidade.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

GENEROSIDADE


Cá estou eu novamente para grafar os últimos devaneios deste ano. “Um bom ano”. Lembram do filme que traz esse título!? Nele o autor leva o espectador a viajar do ritmo frenético dos negócios a uma pacata cidadezinha da França, cheia de vinhedos, com suas peculiaridades convencionais e muito provinciana. Da cidade à Província. Está aí uma bela passagem. Ou vice-versa. Uma das muitas passagens que podemos fazer: Da agitação à calmaria. O protagonista do filme consegue encontrar o seu destino onde menos esperava. Ao tomar conta dos negócios do vinhedo do tio numa pequena cidade, encontra-se pessoalmente e descobre o amor e a felicidade.
Para sair e fazer a passagem do “grande” ao “pequeno” sujeito, como diria Charles Chaplin, será preciso que a generosidade nos acompanhe em cada gesto. Dar um pouco do que é seu a outro revela uma parte sua antes desconhecida. Dar lugar à generosidade nesse fim de ano parece ser uma boa sugestão para quem, de fato, ainda pretende livrar-se de si mesmo e de suas vicissitudes egoístas e desonestas. A generosidade nos faz mergulhar maravilhosamente na mais pura vida, sem dinheiro e sem politicagem, e ir experimentar o quase nada dos outros. Passar do solitário ao solidário com as mãos e o coração cheios de amor e de atenção para dar.
Já se perguntou o que pode dar? Dar. Dar o quê? Dar algo além de presentes, dinheiro e uma boa mesa. O falso clichê de que “ninguém dá o que não tem” se confronta com a ideia de que algo se pode dar do que se é. Sim, pode-se dar o que se é. Não há nada que não possamos dar de nosso ser, uma vez que é próprio do ser dar, dar sempre mais. Quem nunca ouviu a frase: “Ninguém é tão necessitado que não tenha nada para dar e ninguém é tão suficiente que não tenha nada para receber”. Generoso ao dar, mas generoso também ao receber em todos os sentidos. Por exemplo: Há pessoas que são muito generosas para falar, mas pouco generosas para ouvir.
Não me refiro somente ao nada econômico, o mais desprezível de todos porque é o valor mais focado por todos, mas me refiro ao que quase ninguém liga mais, aos afetos, ao que é interno e que se encontra na linha do amor. Na estreita linha do amor estão os inexplicáveis atos de bondade e de generosidade tão próprios aos seres humanos, a tudo que é humano. É daí que vem, sim, a verdadeira generosidade.
Quantos não fecharam suas mãos, não só as mãos, mas fecharam o coração durante todo este ano! Portanto, é hora de abrir as mãos, o coração, a cabeça, os olhos, a vida para quem não pode abrí-los devido aos inúmeros impedimentos, a saber: fome, miséria, doença, desemprego, violência, corrupção, ganância e egoísmo. Romper a barreira de todos esses impedimentos é a graciosa sugestão da generosidade possível ao homem.
O mais engraçado da generosidade é que sem gratidão dificilmente poderá ser experimentada. A gratidão é a força da generosidade. Sem gratidão, a generosidade se transforma em vaidade. A honra da generosidade é um coração grato. Veja que, só com amor, a generosidade faz sentido. Para conservarmos a dignidade do ato de dar, é necessário reconhecermos nossa consciência, vontade e liberdade ao dar. Ser generoso é, antes de tudo, ser gracioso pelas muitas coisas que chegaram até nós sem esforço algum. Reconhecer que o calor do sol, a luminosidade da lua, a fonte dos rios, o movimento dos mares, a fertilidade da terra, o carinho dos animais, a bondade das pessoas, a beleza das florestas e o presente dos filhos não têm preço, é de graça que recebemos, na verdade, já são um esplendor de generosidade.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica
Páginas na internet:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A filosofia como “ensaio” do pensamento


Na introdução à obra História da Sexualidade II, Do Uso dos Prazeres, temos um texto bastante feliz de Michel Foucault sobre o que vem a ser, de fato, a filosofia. Um texto para ser lido, lido de novo e depois posto à admiração de todos que puderem se abrir ao maravilhoso exercício do pensamento. O que ele diz, do jeito que diz da filosofia é simplesmente novo e contemporâneo. Aliás, Foucault é um desses filósofos, cujo modo de dizer as coisas é praticamente atual, singular e resistente ao tempo. Consegue ser contemporâneo o tempo todo.
Se Foucault fez o seu “ensaio” filosófico como o fez Montaigne, Nietzsche e outros, por que não devamos fazer o mesmo a partir de nós? Vejamos o que é o “ensaio” filosófico de Foucault para aprendermos a lição de pensar o pensamento a partir do contemporâneo.

Quanto ao motivo que me impulsionou foi muito simples. Para alguns, espero, esse motivo poderá ser suficiente por ele mesmo. É a curiosidade – em todo caso, a única espécie de curiosidade que vale a pena ser praticada com um pouco de obstinação: não aquela que procura assimilar o que convém conhecer, mas a que permite separar-se de si mesmo. De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece? Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. Talvez me digam que esses jogos consigo mesmo têm que permanecer nos bastidores; e que no máximo eles fazem parte desses trabalhos de preparação que desaparecem por si sós a partir do momento em que produzem seus efeitos. Mas o que é filosofar hoje em dia – quero dizer, atividade filosófica – senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento? Se não consistir em tentar saber de que maneira e até onde seria possível pensar diferentemente em vez de legitimar o que já se sabe? Existe sempre algo de irrisório no discurso filosófico, quando ele quer, do exterior, fazer a lei para os outros, dizer-lhes onde está a sua verdade e de que maneira encontrá-la, ou quando pretende demonstrar-se por positividade ingênua; mas é seu direito explorar o que pode ser mudado, no seu próprio pensamento, através do exercício de um saber que lhe é estranho. O “ensaio” - que é necessário entender como experiência modificadora de si no jogo da verdade, e não como apropriação simplificadora de outrem para fins de comunicação – é o corpo vivo da filosofia, se, pelo menos, ela for ainda hoje o que era outrora, ou seja, uma 'ascese', um exercício de si, no pensamento”(In FOUCAULT, Michel. História da sexualidade II, Uso dos Prazeres. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1984, pág. 13).

Compilado por Jackislandy Meira de Medeiros Silva.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cante o Natal!

Talvez, poeta algum cantou tão bem o Natal quanto Manuel Bandeira! Ele o mostrou da maneira mais simples, cotidiana e humana, repleta de inocência tão próprias ao requinte e ao estilo de Bandeira. Cantemos com ele a pureza do Natal:


Penso no Natal. No teu Natal. Para a Bondade
A minhalma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Tudo é saudade... A voz dos sinos... A cadência
Do rio... E esta saudade é boa como um sonho!
E esta saudade é um sonho... Evoco-te... Componho
O ambiente cuja luz os teus cabelos douram.
Figuro os olhos teus, tristes como eles foram
No momento final de nossa despedida...
O teu busto pendeu como um lírio sem vida,
E tu sonhas, na paz divina do Natal...


Ó minha amiga, aceita a carícia filial
De minhalma a teus pés humilhada de rastos.
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos...
Ampara a minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais do que humana  pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus...

O bobo filósofo de Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O pensador na poesia de Pessoa

O poeta Fernando Pessoa ao modo de Alberto Caeiro soube maravilhosamente se expressar como quer um filósofo, com admiração e perplexidade diante da novidade do mundo:
 "O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
      E o que vejo a cada momento
 É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
    E eu sei dar por isso muito bem...
         Sei ter o pasmo essencial
   Que tem uma criança se, ao nascer,
    Reparasse que nascera deveras...
    Sinto-me nascida a cada momento
    Para a eterna novidade do mundo."

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O sentido do trabalho


(Arte: Diego Rivera)
Eis um bem necessário: Trabalhar. Não quando se está para entrar em férias, mas quando se está prestes a sair delas. As férias estão às portas, e está aí uma boa hora para se pensar um pouquinho no sentido que damos ao trabalho. Talvez vejamos melhor o trabalho longe dele ou fora dele. Muitos diriam até que é um mal necessário, no entanto, trabalhar acaba sendo um bem necessário, antes de tudo, porque é um valor insubstituível para a saúde de qualquer cidadão, bem como para a sua sustentabilidade.
É óbvio que, como qualquer outra coisa na vida, o trabalho também é uma falta quando da sua ausência circunstancial. Só se valoriza o estudo quando se deixa de estudar. Só se valoriza o amor quando se passa pelo deserto do desamor. Só se percebe a pessoa do lado até o momento em que ela passa a não estar lá. Assim também é com o trabalho. Sua falta é sentida a partir do momento que deixamos, por alguma razão, de trabalhar. Com as férias, ausência de trabalho, vem a monotonia, o tédio, o sedentarismo e todo tipo de males. Por isso, o trabalho acaba sendo uma das boas saídas para uma vida feliz, sobretudo quando o trabalho é a extensão da família que enriquece o convívio social.
As férias não devem ser encaradas como um tempo de morbidez sem fim, uma vez que são um período apenas de descanso e de recomposição das energias gastas num intenso tempo de trabalho. Sendo assim, nada mal que tenhamos um bom tempo livre para fazer muito do que se gosta, como por exemplo; terminar aquela leitura que ficou inacabada; caminhar com mais frequência para exercitar o corpo e manter o equilíbrio emocional; cuidar um pouco mais de si; dialogar com quem não se via há bastante tempo; visitar os amigos; viajar e respirar novos ambientes... Enfim, volta e meia precisamos tirar umas férias, até porque ninguém é de ferro. Sair das rotinas e se desgarrar dos enfados do trabalho maçante e burocrático, de atividades repetitivas por isso estressantes, nos fazem muito bem.
Não há dúvidas de que a nossa natureza humana reclama descanso, paz e um pouco mais de humor, porém há que se ressaltar, nisso tudo, um certo limite de empolgação para com as férias, até porque quanto mais nos acostumamos com elas e com o lazer, mais e mais nos percebemos que somos homens do trabalho, seres que não vivem mais sem trabalho. Essa é uma consequência dos famosos tempos modernos trazidos pela revolução industrial, êxodo rural e inchaço das grandes cidades. Trabalhamos visando à riqueza, ao lucro e ao acúmulo de bens, ao capital. Isso nos levou a não trabalharmos mais, mas a capitalizarmos, perdemos o sentido do trabalho que vinha acompanhado do pensamento e do prazer. Todavia, não só pelo motivo econômico de sobrevivência e subsistência, mas também pela ocupação terapêutica, pela “salvação” mesma que o trabalho nos propõe é que ele é tão indispensável nos dias atuais. Tira-nos da inércia e nos põe em atividade, em movimento.
É desse ponto de vista muito peculiar que o trabalho acaba sendo uma opção de vida continuada até mesmo para quem se aposenta e não quer, de jeito nenhum, cair na invalidez. Aposentar-se hoje aos 60 anos não é mais uma verdade, tampouco um sonho de muitos. Aposentar deixou de ser um ideal a perseguir.
Acostumados com uma pauta exaustiva, extenuante e até certo ponto corriqueira do trabalho não nos habituamos mais a um ritmo de vida estático e cômodo comparado ao das férias. Talvez isso se deva ao frenético ritmo de atividades que uma mesma pessoa pode desenvolver hoje no mundo do trabalho. Desempenhamos as mais variadas atividades, desde aquelas ligadas ao lar até às inúmeras outras ligadas ao comércio, à indústria, ao estudo e etc. É bem verdade que nos adaptamos a tudo, até mesmo ao mais duro dos muitos trabalhos, como é o caso do trabalhador rural e do trabalhador de construção civil; trabalhadores nos canaviais e pedreiros por exemplo. Estes, de sol a sol, o dia inteirinho, não largam seus instrumentos de trabalho porque precisam produzir ou render intensamente no labor que desempenham.
Não importa o trabalho ou as suas diferentes formas, todos eles são necessários para o desenvolvimento humano e cultural de um povo. O que é indispensável fazer, além de fabricar e criar com as mãos e outros membros do corpo, é arte com o trabalho. Trabalhar com arte é permitir-se ao novo, ao desconhecido, ao inusitado. Trabalhar é transcender à sua ordem do dia. Trabalhar é agradecer em meio ao deserto, fruto da irritabilidade, do cansaço e da falta de vocação para tal. Trabalhar é também comer o pão do suor de seu rosto. Trabalhar, tal como se ouve música ou como se faz teatro, encenando, representando, deixa de ser uma tragédia, um incômodo e passa a ser arte, algo muito agradável.
Para terminar, não se deslumbre muito com as férias, pois assim como se cansa do trabalho, cansa-se também das férias!

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em Metafísica.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Vira-latas



Por Luiz Felipe Pondé.

O brasileiro tem complexo de vira-lata. Adora bancar o chique falando mal de si mesmo.

Principalmente quando alguém chique (leia-se, europeu) fala mal do Brasil. Um modo específico de nosso complexo de vira-lata é achar a Europa o máximo.

Quem conhece bem a Europa e ultrapassou a caipirice de achar tudo lindo por lá sabe que os europeus são (também) arrogantes, metidos, preconceituosos e exploradores e pensam, ainda hoje, que somos uns "índios" mal alimentados, ignorantes e mal-educados.

Claro que há exceções, portanto, não se faz necessário que europeus me escrevam jurando que são legais, ou que seus avós são legais, ou que seus cachorros são criados com todos os direitos humanos, mesmo porque, apesar de que isso não é sabido, ninguém pode ajuizar sobre sua própria virtude.

Lamento pela gente que se julga "crítica e consciente", mas todo mundo que se acha legal por definição é um mentiroso.

Se você for uma leitora que um dia mochilando pela Europa transou com um europeu (europeus costumam adorar brasileiras, porque acham nossas mulheres fáceis e doces, coisa rara nas mulheres europeias de hoje em dia, que a cada dia se tornam mais chatas, competitivas e estéreis), não confunda o papo que teve com ele antes do coito com o fato de que os europeus nos acham subdesenvolvidos. Inclusive porque para eles você é fácil porque é subdesenvolvida.

Sim, achar a Europa o máximo é coisa de gente caipira e brega. Se você pensa assim, tome um remédio. Ou minta.

Recentemente, um intelectual europeu em visita ao Brasil fez críticas ao país. Nada que não saibamos sobre nós mesmos. Mas, logo, alguns intelectuais e artistas vira-latas tiveram um orgasmo porque o "sinhozinho" falou mal das "zelites".

Sim, a elite brasileira pode ser bem brega na sua condição de elite de colônia. E horrorosa na sua ignorância "luxuosa". Aqui, ostentação é destino. Pessoas educadas sabem que a felicidade (seja lá no que for) deve ser guardada a sete chaves. Só gente brega "mostra" que é feliz. Neste caso, um toque de melancolia é elegância.

Por exemplo, o hábito de cultuar restaurantes pretensiosos como "de Primeiro Mundo" porque são caros é comum entre nós.

Dizer que você esteve em tal restaurante "caríssimo" (sempre pretensioso) é atestado de breguice. Mas julgar alguém "superinteligente" porque vem da Europa também é brega.

É fácil posar de "culto e crítico" e ficar horrorizado com nossas injustiças sociais quando se teve a chance de ganhar muito dinheiro ao longo da história à custa das injustiças sociais dos outros. Europeu que se faz de rogado pela injustiça no mundo só cola em vira-lata.

Por outro lado, se a riqueza cultural europeia é óbvia, e não se trata de negar este fato, ela se deve em grande parte às injustiças sociais europeias do passado e não ao seu "estado de bem-estar social" atual. Este tipo de "estado" produz apenas banalidades e monotonias de classe média.

Uma grande falácia é supor que injustiça social e riqueza cultural sejam excludentes, pelo contrário. Ou que justiça social produza necessariamente originalidade intelectual.

Não sou um "patriota", patriotismo é para canalhas. Calabar -que optou pelos holandeses em detrimento dos portugueses no Pernambuco colonial- pode ter razão. Falo aqui apenas de nosso complexo de vira-lata.

É muito comum que grandes intelectuais estrangeiros venham a nossa terra inculta e falem um "feijão com arroz" básico supondo que somos ignorantes mesmo e por isso não precisam suar a camisa diante de nossas plateias que sacodem seus ouros, exibem seus decotes e orelhas de livros.

Já vi isso acontecer várias vezes. Também no mundo acadêmico isso acontece, não só no mundo da filosofia de luxo.

Um grande professor que tive e que vive na Europa há anos me disse certa feita que até hoje os europeus não acreditam que "na volta das caravelas que colonizaram as Américas" pode haver algum "índio" que seja igual ou melhor do que eles.

A afetação moral em europeus não é muito diferente da afetação intelectual de nossos decotes de marca.

Boletim filosófico "o dia d" do S.E.R.

Como professor de Filosofia da rede pública estadual já há alguns anos, não abro mão das leituras que, com frequência, venho fazendo dos boletins semanais, editados pelo Centro de Filosofia Educação para o Pensar. Àqueles que ainda não conhecem o Boletim, vejam esta nova edição:

http://boletimodiad.blogspot.com/

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Filosofia para Crianças: Valores e contravalores

Há valores situados fora do tempo e do espaço, como a paz, a justiça, a generosidade, o diálogo, a sinceridade, etc. Já nos diálogos de Platão vamos descobrir a discussão destes mesmos valores, o que vem corroborar a afirmação que principia este parágrafo.
Descobrir, incorporar e realizar estes valores positivos deve ser, pois, uma das tarefas básicas da filosofia para crianças e adolescentes.
Devemos começar pensando: “Quais os critérios para se viver em sociedade?”
Veremos que temos:
- o sentimento de crítica que nos permite analisar a realidade;
- o sentimento de alteridade que nos permite sair de nós mesmos para estabelecer relações com o outro;
- o conhecimento e o respeito pêlos direitos humanos, que nos traz harmonia;
- o compromisso pessoal e o espírito de responsabilidade para que os outros critérios não caiam no vazio.
O que é um valor?
Algo que estimamos, a convicção de que alguma coisa é boa ou ruim (contravalor). A organização destas convicções vai se fazer em nós, através dos valores dos pais, dos educadores, da religião e da so­ciedade, durante o nosso processo de desenvolvimento.
De onde vêm os valores?
 A filosofia vai contribuir para que estes valores já estabelecidos se­jam passados pelo crivo da razão e   ajuda-nos a definir, com clareza, os objetivos de vida e assumir, livremente, valores autênticos que evidentemente  ajudarão a aceitar e amar como é, facilitando uma relação equilibrada com o outro, com a vida e com o mundo.

Fonte: Do livro Filosofia para Crianças e Adolescentes.  Autora: Maria Luis S. Teles. Ed Vozes

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

13 curiosidades sobre Emmanuel Lévinas

Levinas - 13
Levinas solicitou que se colocasse uma faixa ao redor do livro Da Existência ao Existente com a seguinte sentença: “onde não se trata de angústia”.

Ele deixa a angústia do nada e parte para o horror do há da existência. Ou seja, o abandono do medo da morte em direção ao demais de si mesmo.
Levinas - 12
Levinas encontrou Sartre três vezes. Segundo Simone de Beauvoir, Sartre teria especialmente apreciado Teoria da Intuição na Fenomenologia de Husserl. Levinas teve grande admiração por Sartre. O filósofo teve contato com O Ser e o Nada logo que saiu do cativeiro.
Levinas - 11
Antes da guerra, o filósofo solicitou a nacionalidade francesa e a obteve. Terminou sua tese. Neste período, casou. Levinas prestou serviço militar em Paris no Regimento de Infantaria.
Levinas - 10
O filósofo rapidamente foi feito prisioneiro de guerra. Foi levado para a Alemanha, declarado judeu, passou para o campo de prisioneiros onde trabalhava de dia na floresta. A pé, atravessando o vilarejo diariamente para o trabalho, Levinas descreve que o olhar das pessoas, olhar de condenação, "dizia tudo".
Levinas - 9
Levinas conheceu Husserl já muito velho. A mulher de Husserl estudava francês com Levinas que se dirigia à casa do velho filósofo para este fim. De Heidegger, Levinas teve a impressão de um autoritarismo austero. Tinha um grande respeito, admiração, por Heidegger, mas nunca esqueceu suas relações com Hitler.
Levinas - 8
O filósofo dizia que era difícil dialogar pessoalmente com Husserl em uma aula, questionar Husserl. Qualquer pergunta parecia ser respondida com uma conferência, com textos prontos.
Levinas - 7
Levinas chega à fenomenologia na França, ao conhecer por intermédio de uma amiga Husserl. Ao ler As Investigações Lógicas, o filósofo entendeu que estava diante de uma nova possibilidade de passar de uma idéia para outra, além dos aspectos induditos, dedutivos, intuitivos.
Levinas - 6
Desde seus primeiros estudos na França, a partir de 1924, Levinas nutriu uma sólida admiração pelo pensamento de Bergson. Idéias como a do infinito em cada pessoa, a excelência do bem, a duração, temporalidade, vários elementos impressionaram o filósofo.
Levinas - 5
Levinas chegou à Filosofia inicialmente pelas leituras dos autores russos. Os textos de autores judeus também o conduziram neste caminho. Por fim, quando sua família se muda para a França, onde vários professores de Filosofia lhe chamam a atenção, e o caso Dreyfus é discutido sob a ética em toda a Europa.
Levinas - 4
Quando o tzar abdica, em 1917, Levinas era muito mo?e não compreendia o alcance do ato. Em julho de 1920 sua família aproveita uma oportunidade e retorna imediatamente ?itu?a, onde as chances para uma família israelita seriam melhores.
Levinas - 3
Desde os 6 anos de idade Lévinas teve aulas habituais de hebraico. Quando chega ao liceu, em Kharkov, tinha 11 anos e somente havia conhecido aulas particulares até então. Era muito raro judeus poderem cursar as melhores escolas e a família Lévinas comemorou o fato.
Lévinas - 2
Era comum que a geração dos pais do fil?o iniciasse os jovens pelo hebraico. Mas tal geração compreendia que o caminho a seguir pelos jovens deveria passar pela cultura russa, pela línguua russa. Assim, era usual que nas famílias de origem judaica os pais falassem russo com os filhos.
Lévinas - 1
O filósofo afirmava ter poucas recordações de sua infância. Lembra que o pai tinha uma livraria em Kovno, Lituânia. Tinha cerca de 8 anos quando começou a guerra em 1914. Havia uma forte cultura judaica na região, muitas sinagogas, diversos lugares onde estudar.


Fonte: www.filosofia.com.br

Charges de Gary Larson

Gary Larson(1950) é cartunista norte-americano. Autor de FAR SIDE, onde mostra situações surreais. Nosso blog o homenageia com quatro desenhos seus.
Fonte: www.filosofia.com.br 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Reajuste: governo anuncia elevação do salário mínimo de R$ 622,73 para o próximo ano

 
O governo anunciou ao Congresso Nacional a elevação do valor do salário mínimo para R$ 622,73 a partir de 1º de janeiro de 2012. A previsão era R$ 619,21, com a revisão aumentou R$ 3,52. O reajuste consta da atualização dos parâmetros econômicos utilizados na proposta orçamentária de 2012. O anúncio foi enviado em ofício do Ministério do Planejamento.
O projeto orçamentário encaminhado ao Congresso, em agosto passado, foi feito com previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 5,7%. Com a atualização que elevou a inflação para 6,3%, também haverá a elevação do reajuste do salário mínimo, que era 13,62% para 14,26% em relação ao atual valor que é R$ 545,00.
A política de recuperação do salário mínimo prevê reajuste com base na inflação de 2011 mais a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, que foi de 7,5%. Com a projeção de aumento do INPC haverá também aumento nos benefícios assistenciais e previdenciários para os que recebem acima de um salário mínimo. A previsão de reajuste para esses casos subiu de 5,7% para 6,3%.

 * Informações da Agência Brasil

Crime ao meio ambiente

Quem vai pagar a conta? Quem vai arcar com o prejuízo? Novamente a humanidade.

O erro de Foucault

por Luiz Felipe Pondé para Folha

Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse "erro de Foucault" a sete chaves.

Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.

O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu "orgasmo xiita", após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.

Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o "gênio" contra os "aparelhos da repressão" não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o "Eros xiita".

Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?

Porque muitos dos nossos colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como Foucault) escrevem em suas alcovas.

No recente caso da USP, como em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses "estudantes" (muitos deles nem são estudantes de fato, são profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos faz pensar no tipo de fé "foucaultiana" numa "espiritualidade política contra as tecnologias da repressão".

E onde Foucault encontrou sua inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado "espiritualidade política"?

Leiam o excelente volume "Foucault e a Revolução Iraniana", de Janet Afary e Kevin B. Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no "último Foucault".

As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados.

Esse vazio de critérios de aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é passado aos alunos.

Muitos docentes simplesmente "lavam o cérebro" dos alunos usando os "dois caras" que leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir de seu doutorado.

Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street ou de São Paulo.

Essa crítica ao vazio prático das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.

Essa crítica não quer dizer que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e, por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica. Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.

Trocando em miúdos: as ciências humanas e seus "atores sociais" viajam na maionese em meio a seus delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e racionais) sem nenhuma responsabilidade.

Proponho que da próxima vez que "os indignados sem causa" ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou "FeFeLeCHe", nome horrível!) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.

Agem com a USP não muito diferente da falsa aristocracia política de Brasília: "sequestram" o público a serviço de seus pequenos interesses.

No caso desses "xiitas das ciências humanas", seus pequenos delírios de grande "espiritualidade política".

ELEIÇÃO PARA DIRETOR DA ESCOLA SILVINO BEZERRA DE FLORÂNIA É FRAUDADA

A Escola Estadual Cel. Silvino Bezerra da cidade de Florânia realizou as eleições para diretor, vice e coordenador financeiro quinta-feira passada, dia 17 de novembro de 2011, na qual concorreram a Sra. Professora Daguia Nobre que obteve 261 votos e José Porfírio que obteve 260 votos. As fraudes atingiram os segmentos dos Professores, dos Servidores e dos Pais. Na listagem dos professores que era de 24 assinaturas apareceram 25 votos, sendo 01 a mais. Na listagem dos servidores, que era de 17 assinaturas, assinaram 16 e apareceram 19 votos. Enquanto que, no segmento dos pais, assinaram 233 pais, tendo sido apurado de votos válidos 226 mais 02 votos brancos e nulos, perfazendo-se assim 228 votos. Pergunta-se: Onde estão os outros cinco votos dos pais? E os quatro votos que apareceram no segmento dos professores e servidores vieram de onde? Veja o quadro abaixo e comprove. Estas e outras fraudes já estão sendo investigadas pelas autoridades competentes. Obs: Não publicamos a listagem dos votantes para preservar a integridade das pessoas que votaram.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Uma dose de filosofia na saga “Crepúsculo”


Um triângulo amoroso, que arrancou suspiros na famosa saga “Crepúsculo”, desenrolando-se em mais duas fases “Lua Nova” e “Eclipse”, vem agora atraindo multidões do mundo inteiro para as próximas revelações que darão rumo ao futuro de Bella nas telas de cinema. Revelações estas, claro, para quem ainda não leu a última parte dessa saga, “Amanhecer”.
Um vampiro, uma humana e um lobo. Três naturezas diferentes. Três ordens de pensamentos diversos. Três mundos muito distantes, mas que se aproximam e se encontram pelo amor. Um amor que altera a ordem das coisas e para o qual não há regras. Três visões de mundo completamente diferentes. Poderíamos dizer: Três filosofias. Edward demole a figura clássica de um vampiro feio, exótico e insociável e constrói a figura de um vampiro belo, bom e amável. Mesmo carregando a imortalidade na pele fria, Edward aparenta ser bastante reservado aos humanos, sem presas afiadas e sem ostentar maldade. Não manisfesta qualquer atitude suspeita de que, afinal, é um vampiro, pois Bella só soube que Edward era um vampiro depois de o conhecer. O comportamento de aproximação e distanciamento que havia na amizade entre os dois levou Bella a desconfiar de que se tratava de alguém muito diferente. No entanto, já era tarde demais, os dois já estavam envolvidos.
Nesse movimento curioso de aparecimento e desaparecimento de Edward, alguém muito especial entra na vida de Bella, Jacob. De visão aguçada, audição potente, olfato incomparável e demais sentidos tão próprios a um lobo; comprometido com sua alcateia, fiel aos tratos feitos no passado com os vampiros “cullen” de que nem lobos e nem vampiros poderiam ameaçar os humanos, Jacob não tinha medo de manifestar o seu amor por Bella, muito menos de desafiar os “cullen” para conseguir este tão maravilhoso amor. Ao contrário de Edward, Jacob era moreno, quente e cheio de vida, não de morte. Jacob cheirava à vida, não à morte. Embora muito bonito, esbelto e galã, Edward era pálido e temia a si mesmo por causa do sangue dos humanos. Sua natureza gostava de sangue. Talvez, por isso, se entenda o motivo dos desaparecimentos de Edward de quando em vez. Se a contradição que existia entre o ser vampiro de Edward e a humanidade de Bella era uma ameaça para a realização deste amor; a natureza de lobo de Jacob e a de Bella não implicava em tanto.
Com quem, de fato, Bella vai ficar? Isso todos nós já sabemos. Edward, de acordo com a última parte da saga “Amanhecer”, é o dono de seu coração, porém Jacob tenta mudar esse destino. Jacob se arrisca por isso. Não desiste de Bella, está sempre em sua companhia, principalmente nos impasses entre ela e Edward. Jacob luta por ela, tenta beijá-la, mas ela reluta, até que quase ao final de “Eclipse” tudo ocorre por atração, desejo e naturalmente:
“Pode me beijar, Jacob?
    • Está blefando.
    • Beije-me, Jacob. Beije-me e depois volte.(...)
    E então, com clareza, senti a fissura em meu coração se estilhaçar como a menor parte que se separava do todo. Os lábios de Jacob ainda estavam nos meus. Abri os olhos e ele me fitava, admirado e exaltado.
    • Tenho de ir – sussurrou ele.
    • Não. - Ele sorriu satisfeito com minha resposta.
    • Não vou demorar – prometeu ele. - Mas primeiro uma coisa...
    Ele me beijou de novo, e não havia mais motivos para resistir. Que sentido teria?
    Dessa vez foi diferente. As mãos dele eram suaves em meu rosto e seus lábios quentes eram gentis, inesperadamente hesitantes. Foi breve e muito, muito doce”(pág. 377-378)
O amor de Bella por Edward e vice-versa é a fonte de inspiração de toda a trama, mas Jacob entra em cena sempre que a dúvida toma conta da cabeça dos dois. A dúvida de Edward aparece quando se dá conta da sua natureza de vampiro. Condenado à imortalidade e ao frio, ao sangue, ao mesmo tempo que a amava se sentia uma ameaça para ela. Por outro lado, não querendo condená-la a perder a sua alma, se ausentava de sua presença. Aí, abre-se um espaço para o lobo, Jacob. Vampiros e lobos são inimigos por natureza, mas que se uniam por um amor, Bella.
Vejam que estranho e ao mesmo tempo admirável: Os três tinham todas as razões, todos os motivos para se odiarem e se evitarem o tempo todo, mas uma linda e fantástica história de amor os envolviam em ambientes peculiares com interesses comuns e únicos. As três vidas estavam como que comprometidas em torno de um nome, de um sentido, de uma força extraordinária, amor. Um amor que é mais forte do que a morte e do que a imortalidade. Em toda a saga, diga-se de passagem, a morte é apenas um detalhe. Não sem razão, a autora da saga, Stephenie Meyer, escreve de próprio punho no prólogo de “Amanhecer” que está agora nos cinemas: “Pode-se correr de alguém de que se tenha medo; pode-se tentar lutar com alguém que se odeie. Todas as minhas reações eram preparadas para aqueles tipos de assassinos, os monstros, os inimigos. Mas quando se ama aquele que vai matá-la, não restam alternativas. Como se pode correr, como se pode lutar, quando essa atitude magoaria o amado? Se a vida é tudo o que você tem para dar ao amado, como não dá-la? Quando ele é alguém que você ama de verdade”(pág. 13).
O mais interessante é que, por esse amor, ambos são capazes de não serem capazes, ambos são dotados de um poder que ultrapassa a barreira do tempo e do espaço. Jacob também a ama tanto quanto Edward. Bella ama misteriosamente os dois, só que ama mais a Edward. Queiramos ou não, na minha opinião, os três são merecedores desse amor, porém, nem um dos três consegue conter ou dominar esse amor, uma vez que em toda a história o amor é soberano.

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Bacharel em Teologia, Licenciatura em Filosofia, Especialista em Metafísica

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ficha limpa e judiciário: uma vergonha

É uma vergonha! Onde está a nossa conivência e consciência para com a justiça em nosso país? É por isso que os políticos corruptos deitam e rolam em "berço esplêndido".

A aurora do pensamento ocidental – José Arthur Giannotti

Seguindo a tradição dos povos indo-germânicos, para os quais o Uno configura o múltiplo, desenvolve-se na Grécia (séc. VII a. C.) uma produção de livros a serem discutidos por todos os cidadãos, que procuram responder à questão “o que é?”. São as formas separáveis (Ideias) dirá Platão, são as formas inseparáveis, portanto energizadas nelas mesmas, dirá Aristóteles. E assim se desenha o campo em que a batalha pela metafísica se dará.
Palestra da série Filosofia e saber de José Arthur Giannotti.
Outras palestras desta série acontecem no dia 24 de novembro e 2 de dezembro.
Transmissão ao vivo a partir das 18h em www.cpflcultura.com.br/aovivo.
Data: 18 de novembro
Horário: 19h
Classificação etária: 14 anos
Programação gratuita e por ordem de chegada a partir das 18h. A cpfl cultura em Campinas fica na rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632 – Chácara Primavera. Mais informações pelo telefone (19) 3756-8000.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ontologia leviana dos seios

por Luiz Felipe Pondé para Folha

Hoje acordei um tanto leviano. Em dias assim, falo a sério de filosofia. O niilista respira identificando em toda parte a morte da metafísica. Pra quem não sabe, a metafísica é a "ciência" segundo a qual existiria um mundo de formas eternas e plenas, invisível aos olhos, mas visível ao "espírito".

Engraçado como muita gente combate a artificialização da beleza do corpo em nome de uma beleza "natural". O que essa gente não entende é que se a metafísica morreu, a existência de uma natureza "natural" também morreu, porque tudo neste mundo da matéria é impermanente, vago, impreciso, e, acima de tudo, dolorido.

Com a morte de Deus (símbolo máximo da morte da metafísica), o corpo velho é apenas um corpo feio e decadente. Se Deus não existe, toda beleza artificial é permitida. Logo, viva o silicone.

Mas não quero falar de Deus, quero falar de seios.

A vida pode ser miserável e pequena. Triste constatação. Mas miserável pode ser apenas a constatação de que anatomia é destino, como dizia Freud. O corpo, essa massa mortal que perde a forma com o tempo, é nosso lar, uma casa em que habitamos e que nos abandona, deixando-nos a herança do pó.

"A Pele em que Habito", título do novo e maravilhoso filme de Almodóvar, define nosso destino. Mas não vou falar do filme, pois é aquele tipo de filme de que quanto menos se fala, melhor, porque quando se fala dele, corre-se o risco de falar demais.

O freudiano, agostiniano e dostoievskiano Nelson Rodrigues, o maior filósofo brasileiro, escreveu um livro chamado "Asfalto Selvagem, Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores", no qual a heroína Engraçadinha, segundo ele, seria infeliz porque tinha seios belos demais.

O mundo não perdoa a (a falta de) beleza, seja ela visível ou invisível. Por um seio bonito, mata-se e morre-se. No mínimo paga-se caro.

Acho que o SUS deveria pagar cirurgias plásticas para mulheres pobres colocarem silicone nos seios. Por que não? Travestis gozam de cirurgias de mudança de sexo, por que nossas mulheres não deveriam ter o direito de ficarem mais belas?

Ontologia é a disciplina da filosofia que estuda as essências das coisas e dos seres vivos. A ontologia diz o que você é. A ontologia da mulher passa pelos seios, pelas pernas e pela doçura, assim como a do homem pela potência e pelo dinheiro. O resto é mentira.

Tanta tinta corre no mundo em nome da política e da economia, e, ainda assim, os seios podem decidir a vida e o amor verdadeiro. Diante deles, a alma desfalece em desejo. Como disseram filósofos no passado, se o nariz de Cleópatra fosse diferente, a história do Ocidente teria sido outra.

Fala-se muito que devemos dar valor à alma, ao que se tem "dentro de si", ao que se "é", e não ao que se "tem", mas, o dia a dia, aquele mesmo em que acordamos atordoados pela constante constatação de nossas carências e impotências, parece dizer o contrário. O futuro pode sim ser julgado pela beleza dos seios.

Isso pode ser um indicativo da solidão do mundo no qual só a matéria existe. O niilismo, assim como o Demônio, o maior de todos os humanistas, respeita a angústia das feias.

Este fato, como todo fato obscenamente verdadeiro, pede silêncio de nossa parte. Mas eu, que peco constantemente em nome do vício, confesso: as pessoas quase sempre fazem tudo pelo que podem ter e não pelo que podem ser. E, muitas vezes, o "ser" é decorrente do "ter". E não falo de grana, falo de seios.

Fosse Platão um admirador do sexo frágil, abriria seu diálogo "O Banquete" (sobre o amor) pela ontologia dos seios da mulher.

Sendo assim, a indústria da beleza deveria receber maior atenção da filosofia e não apenas suas pedras de desprezo.

Colocar silicone pode ser um pedido discreto de amor. Uma forma tímida de buscar o olhar negado. Com o tempo, a forma dos seios abandona o mundo, ficando presa no mundo miserável do passado. Não se pode pegar com a mão ou com a boca a lembrança dos seios perdidos, apenas a forma dos seios reconstituídos.

A beleza artificial é uma batalha discreta contra o vazio do corpo e da alma.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Rede Globo se abre para o EVANGELHO

Tudo confirmado para o especial de fim de ano que a Rede Globo vai promover focado no público evangélico: o Festival Promessas. Pouco a pouco, a emissora vai percebendo o potencial do segmento chamado gospel, principalmente na música, tendo já investido em famosos talentos como Davi Sacer, Diante do Trono e Ludmila Ferber com gravação de seus CDs.
Agora chega a vez de realizar um programa específico para esse público. Talvez, não apenas valendo-se da possibilidade de grande audiência, mas também por tentar recuperar a credibilidade da emissora diante de muitos evangélicos que têm rejeitado conteúdo, nível e propostas de muitas programações da Globo.
Serginho Groisman será o apresentador do Festival Promessas e a direção de núcleo ficará por conta de Luiz Gleiser. O show de música está marcado para o dia 10 de dezembro, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, e deve ir ao ar no dia 18 (domingo), abrindo a programação especial de fim de ano. Nove artistas e grupos importantes da música gospel nacional se apresentarão. Isso é que é força gospel.

http://www.verdadegospel.com/serginho-groisman-vai-apresentar-especial-gospel-da-globo/

De corrupção e faxina

Prof. Nei Alberto Pies
Ativista de Direitos Humanos

“A política não é a arte do que é possível fazer, mas sim de tornar possível o que é necessário fazer”.
 (Augusto Boal, dramaturgo brasileiro)

Nem a faxina e nem a corrupção são invenções femininas. A corrupção é um evento de natureza essencialmente humana, que decorre como fruto das oportunidades, elaboradas ou fortuitas, do caráter dos oportunistas ou dos interesses escusos ou mal intencionados. Jamais acabaremos com a tão disseminada “praga” da corrupção que corrompe os espaços da esfera pública e privada. O que podemos fazer é “torná-la cada vez mais difícil de ser praticada”, como pensa a nossa presidenta da República Dilma Rousseff. 

Quem cunhou o termo “faxina” para denominar os esforços que governo, parlamentares e organizações da sociedade estão empenhando pelo controle da corrupção o fez sem considerar o significado do próprio conceito e sem pensar nas conseqüências nele implicadas. A verdadeira faxina é praticada todos os dias, nas nossas ruas e casas, por milhares de mulheres e homens no Brasil que, de forma digna, fazem deste ofício o sustento e alento de suas vidas. Estes, sim, “faxinam” os nossos lixos e restos.

É difícil falar de faxina sem recorrermos a uma casa. Ocorre que existem implícitas em toda faxina diferentes modos de conceber a arrumação como a limpeza de uma casa. Há quem prefira casas esterilizadas, semelhantes a um centro cirúrgico ou cenário de novela. Há outros, no entanto, que preferem casas que promovam a vida e a festa, muito antes da arrumação. Carlos Drummond de Andrade, em seu poema “A casa arrumada” afirma que:
“casa com vida é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa em festa”.
Faxinar pressupõe, por isso mesmo, “limpar o ambiente” com a certeza de que o mesmo logo mais estará sujo. E não é isto que se deve fazer para combater a corrupção.

O fato é que, no nosso jeito brasileiro, em cada momento histórico, vamos fabricando expressões lingüísticas para deixar tudo como está ou para zombar de quem está fazendo alguma coisa. Sempre arrumamos formas de não assumir nossa responsabilidade individual diante dos problemas enfrentados por todos. Fica muito mais fácil e cômodo ignorarmos a “corrupção nossa de cada dia”, aquela que enxergamos e da qual temos conhecimento, focando como se a mesma se concentrasse na Capital Federal, Brasília. É sempre menos comprometedor faxinar do que combater.

 No Brasil, não vivemos a cultura da radicalidade. Pela radicalidade, buscaríamos as soluções para nossos problemas a partir da raiz de sua existência.  Radicalidade é a nossa predisposição para a mudança efetiva e comprometida das realidades. Mas será que temos alguma predisposição para mudar o curso das coisas que movem a nossa vida social? A quem interessa combater a corrupção?

A corrupção gera-se em contextos circunstanciais, quando há oportunidades reais para que alguém, a partir de sua posição ou poder, apodere-se injustamente de algo que não lhe pertence. Não há como deter controle absoluto sobre as condutas pessoais e nem sobre a corrupção, mas há muito para fazer para resgatarmos valores como a ética, a justiça, a responsabilidade social, o zelo e a consideração pelas coisas públicas, a dignidade humana, o valor da política. Estes, sim, podem constituir uma nação mais cidadã e mais livre. São o verdadeiro antídoto para combater a corrupção.

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